Sem título

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Cá e Lá
E minha vida sempre foi cheia de indas e vindas. Nunca morei no lugar onde nasci, cresci ouvindo minha mãe contar histórias de guerras, ficar escondida debaixo da cama com as filhas muito pequenas, rezando para que elas não reclamem de fome, enquanto militares usavam sua varanda para atacar quem estivesse na rua. Deixou sua casa e foi embora de sua terra, apenas com a roupa do corpo, seu marido, rumo a outro lugar. Essa parte perdi, mas vi a sequência, quando nossa casa foi vendida, e boa parte dos meus brinquedos tiveram que ficar para os novos moradores (caiçaras endinheirados, veja só!)... A Janete, nossa viralatinha, ficou com meus avós, assim como nossa pata de pescoço verde, que eu gostava tanto quando tinha filhotes e os levava para nadar no lago do quintal. Não esqueço também das malas sendo colocadas no Taxi (Preto como todos de lá), aquele sol de 4 horas da tarde, e toda a vizinhança na porta dando adeus... Nunca mais vi hortências como aquelas. Outro país, outro país novamente, cidades e mais cidades! E hoje sei que não sou de nenhum lugar, e de todos ao mesmo tempo... Quiçá voltando ao assunto do post "Ta lá?", minha eterna saudade de tudo talvez esteja nas veias.

Outrora eu era de aqui
e hoje regresso estrangeiro
Forasteiro do que vejo e ouço
velho de mim
Já vi tudo
ainda o que nunca vi nem ou que nunca verei
Eu reinei no que nunca fui

Fernado Pessoa

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